O Ministério da Dança na realidade

PARTE  1






“A dança é uma das raras atividades humanas em que o homem

se encontra totalmente engajado: corpo, espírito e coração.”
(Dançar a vida, Maurice Béjart, Ed. Nova Fronteira, 1980.)

 

O lugar da Dança


Na vida: Dança é expressão subordinada ao ritmo. Desde a vida intra-uterina o homem o homem é “sensível aos ritmos, aos sons ritmados, à musica (...) o que, desde já, se constitui uma forma de dança.” (Educação Artística: luxo ou necessidade, Louis Percher, Ed. Summus, 1982). A criança, ainda pequena, quando se movimenta e “ilustra o canto com gestos simbólicos e com mímicas variadas (...) e quando brinca de roda (...) já está dançando”. (Percher, 1982). Na vida cotidiana está presente uma espécie de “essência da dança”, observável em sua ligação com os ritmos elementares que estruturam esse mesmo cotidiano, à cultura popular e ao contexto sócio-histórico. (Percher, 1982) “O lugar da dança é nas casas, nas ruas, na vida” (Béjart, 1980).

Na arte: “A dança é a arte do movimento e da expressão, onde a estética e a musicalidade prevalecem. (...) O corpo humano é o instrumento da arte da dança.” (Ballet: arte, técnica e interpretação. Dalal Achcar, Ed. Artes Gráficas, 1980). “É a arte de fazer passar emoções e ações à alma do espectador pela expressão verdadeira dos movimentos e dos gestos”. (Noverre)




1.     Dança para o louvor: se caracteriza pelo aspecto informal e comumente faz parte do que se convencionou chamar de “momento de animação”. Normalmente é ministrada por um animador, na companhia de uma equipe que o acompanha. Se constitui de coreografias simples, que acompanham estritamente a letra da música e objetiva criar um clima de descontração, interação social e alegria no Espírito Santo. Pode ser justificada pelas palavras de Santo Agostinho: “A dança liberta o ser humano do peso das coisas e une o solitário à comunidade”.
2.    Dança de expressão estética: se caracteriza por uma maior preocupação técnica e estética e se destina principalmente ao uso na liturgia (solenidades) e/ou homenagens (Ex.: Missas Solenes, Homenagens à Nossa Senhora, etc.). Tem o papel de “embelezar” o momento e se justifica pelo desejo de dar maior glória à Deus por meio de oferecimento do Dom da dança: “ A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, por sua forma, à sua vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o mistério transcendente de Deus (...)”.*
3.    Dança complementar à evangelização: se caracteriza também por uma maior preocupação técnica e se destina a ser auxílio “audiovisual” ao objetivo da evangelização (Ex.: dança sobre o tema do evento e/ou da pregação). Justifica-se pela capacidade de arrematar as informações antes transmitidas verbalmente de forma “observável”, possibilitando uma melhor “visualização” da palavra ministrada e tocando na sensibilidade dos fiéis: “(...) a verdade pode encontrar outras formas de expressão humana, complementares, sobretudo quando se trata de evocar o que ela contém de indizível, as profundezas do coração humano, as elevações da alma, o mistério de Deus. (...) Dá forma à verdade de uma realidade na linguagem acessível à vista e ao ouvido ”. *
*Cf. Catecismo da Igreja Católica, pg. 643 e 644.

PERTE  2
                                             
                         
ATIVIDADES DO MINISTÉRIO:

        
É necessária a realização de reuniões para ensaio e outras para oração. Sugerimos que os ministros não se encontrem apenas para dançarem, mas que existam momentos para a parte técnica, outros para a espiritualização e, conforme a necessidade, outros também para organização de agenda, partilha, lazer, etc.
·         É indispensável a unidade com a paróquia, a participação ativa na vida litúrgica, nos eventos e formações paroquiais e é muito útil o acompanhamento do pároco ou algum diretor espiritual experiente.

FORMAÇÃO TÉCNICA:


·         É imprescindível que os ministros procurem formação técnica em dança, podendo ser no balé, na dança contemporânea (comumente designada jazz), na dança de salão, na dança de rua (street dance), etc. Sugerimos que evitem apenas o axé ou “aero bahia”, o “aero coutry”, e modalidades afins, que se utilizem de músicas e movimentos erotizados.
·         Uma boa instituição e um profissional competente é um item que deve ser considerado, visto que o ambiente de academia muitas vezes é demasiadamente profano. Contudo, o testemunho do ministro de dança é fundamental e pode ser motivo de evangelização em qualquer lugar onde esteja.
·         A saúde e a qualidade de vida deve ser considerada pelo ministro, pois sendo o seu corpo o instrumento de seu serviço a Deus, é preciso que tenha cuidado com o seu peso ideal e com a sobrecarga de exercícios.
·         Nas aulas é conveniente que se trabalhe com disciplina e assiduidade todas as possibilidades corporais e interpretativas, objetivando a melhora da performance.

PRÁTICA DO MINISTERIADO:
·         SEMPRE orar antes de aceitar algum convite, analisar com unção e bom senso o pedido feito e pedir o envio dos coordenadores, diretor espiritual ou pároco, conforme o caso. Queremos alertar para um recorrente fato: a inconveniência de muitos convites, seja em relação ao tema, ao momento em que se quer a dança ou outros aspectos. Submeter tudo à oração e aos superiores.
·         Sugerimos que só se aceite um convite quando este for feito com uma antecedência mínima. Isso se justifica pela necessidade de se compor a coreografia e de serem realizados o número de ensaios adequados para uma apresentação digna de Nosso Senhor. Obviamente é preciso ter discernimento e docilidade para perceber quando o convite é uma exigência urgente de Nosso Senhor e assim, “correr atrás”, flexibilizando essa sugestão.
·         Sugerimos a organização de um “caixa” do ministério para a confecção de figurino, aquisição de maquiagem, adereços cenográficos, entre outros.
·         A participação dos ministros em cursos de formação em doutrina católica, liturgia e espiritualização, bem como em cursos de dança e apresentações de espetáculos e a observação de documentários, especiais de dança e filmes na TV é de suma importância para o crescimento do ministro de dança.

DICAS PRÁTICAS PARA AS DANÇAS:
·         Evitar movimentos sensuais, de alta elevação de pernas, quadris, etc.
·         A utilização de duplas mistas requer muito bom senso.
·         Conformar a dança a espaços pequenos, com pisos muitas vezes inadequados, presença de pedestais, caixas de retorno, arranjos de flores, etc. Procurar saber com antecedência sobre o espaço para usar o número adequado de ministros e coreografar com movimentos sem muita amplitude. Normalmente é essa a realidade. Uma dica para essas situações é o revezamento de ministros ao invés de um grande “grupo de baile” (muitas pessoas dançando ao mesmo tempo). 
·         Subordinar a coreografia às moções da oração que a deve anteceder, considerando o tema solicitado. O coreógrafo deve ser, na verdade, o Espírito Santo.
·         Ficar atento à questão de adereços cenográficos.
·         Um recurso muito importante: usar gestos que representem a letra da música ou a moção do Espírito. (Ex.: Mãos no coração, mãos postas em oração, ajoelhar-se, etc.)
·         Os recursos interpretativos não podem ser negligenciados: expressões faciais, representação de sentimentos, intensidade de movimentos, etc. É necessário que se “viva” o que se está dançando.
·         O sincronismo de movimentos é algo muito importante que deve ensaiado, pois nele está grande parte da questão estética da dança.


·         
Preocupados com o aspecto estético: uso de brilhos, brocados, lantejoulas, aplicações, tecidos apropriados, etc.·         Adequados para a dança/atividade física: confortáveis, de tecido maleável, leve, que permita a transpiração e que não obstrua a circulação sangüínea (Ex.: calçados específicos, sapatilhas, meias opacas, collants, cotton, malha, lycra, etc.) Observação: o uso de malhas, com o devido bom senso, já foi sancionado pelo Vaticano desde 1789. (A Dança, Mirian Mendes. Ed. Ática, 1985. Obs.: Não consegui averiguar essa informação na página do Vaticano).
·         Coerentes com a evangelização: discretos, que vistam bem, decentes (não decotados, evitar o ‘tomara que caia’, as alças, as transparências, as aderências evidentes e os comprimentos muito curtos).
·         Confecção e catalogação dos figurinos: batas coloridas e brancas, roupa de Nossa Senhora, roupa de Jesus, saias, collants e sapatilhas (vários padrões, cores, texturas), arranjos de cabeça, diademas, chapéus, etc.
·         Confecção e catalogação de maquiagem: pó compacto, lápis de olho, batons, tinta para pintura de rosto, etc.
·         Confecção e catalogação de adereços cenográficos: fitas, asas de anjos, cestas, lenços, corações de papel, caixas, balões, etc.
·         Sugerimos que as peças enumeradas acima sejam de uso exclusivo do ministério e da obra de evangelização, e não para o uso pessoal de algum ministerio



Observações Espirituais sobre a dança na Evangelização:

PARTE 3

·           A dança é um louvor a Deus, em 1º lugar. Não se esquecer, quando estiver dançando, que primeiramente é a Deus que você pretende agradar com sua dança. “A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, por sua forma, à sua vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o mistério transcendente de Deus (CIC 643).

·           A dança é um serviço: não é um favor e nem deve ser encarada como um privilégio. “Pois assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi mandado, dizei: - Somos uns servos inúteis; fizemos apenas o que devíamos fazer". (Lucas 17, 5-10). Não deve ser feita como um sacrifício (obrigação, no sentido de ser feita de má vontade, com falta de disponibilidade e de abertura), mas como resposta a um convite do Senhor. Ele nos chamou para esse serviço por que tem um desígnio específico, para nós que dançamos e para os que forem assistir. “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir!” (Jer 20, 7)

·           Deve ser executada com profunda humildade. Sem humildade a dança não surte o efeito que Deus pretendia com ela em seus desígnios. “Revesti-vos de humildade; porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes”. (Pr 3,34).

·           Deve ser executada com unção, espiritualidade, fé, EM ORAÇÃO. A dança evangelizadora não é apenas arte, é muito mais, é PLANO DE DEUS. Aliás, é preferível que o dançarino que evangeliza seja uma pessoa realmente de Deus do que seja um exímio bailarino, que tenha verdadeira vida de oração do que seja um virtuose. O objetivo é a evangelização, e não dá um show. “Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15, 5b)